quinta-feira, 12 de março de 2009

Uma breve história do futuro

"Hoje se decide como será o mundo em 2050 e se prepara como ele será em 2100. Dependendo de como agirmos, nossos filhos e netos herdarão um mundo onde será possível viver ou enfrentarão um inferno. Para deixar-lhes um planeta habitável, é preciso nos darmos ao trabalho de pensar no futuro, de compreender de onde ele vem e
como agir sobre ele. Isto é possível, já que a História obedece a leis que permitem projetar e orientar certos cenários, a partiur de dados atuais.

A situação é simples. As forças do mercado detêm o planeta "nas mãos". Última expressão do individualismo, essa marcha triunfante do dinheiro explica o essencial dos mais recentes sobressaltos da História: para acelerá-la, para recusá-la, para dominá-la.

Se essa evolução chegar ao fim, o dinheiro acabará com tudo o que pode prejudicá-lo, incluindo os Estados, que ele destruirá aos poucos, até mesmo os Estados Unidos da América. Uma vez transformado na lei única do mundo, o mercado formará o que chamarei de hiperimpério, incompreensível e planetário, criador de riquezas comerciais e de alienações novas, de fortunas e de misérias extremas; no hiperimpério a natureza será regrada, tudo será privado, até mesmo o exército, a polícia e a justiça. O ser humano será, então, coberto de próteses, antes de tornar-se um artefato, vendido em série a consumidores transformados, eles mesmos, em artefatos. Depois, o homem, daí em
diante inútil às suas próprias criações, desaparecerá.

Se a humanidade recuar diante desse futuro e interromper a globalização pela violência, antes mesmo de ser libertada das suas alienações anteriores oscilará numa sucessão de barbáries regressivas e de batalhas devastadoras, utilizando armas hoje impensáveis, opondo Estados, grupos religiosos, entidades terroristas e piratas privados. Chamarei essa guerra de hiperconflito. Este poderia, também, fazer desaparecer a humanidade.

Se a mundialização puder ser contida sem ser recusada, se o mercado puder ser circunscrito sem ser abolido, se a democracia puder se tornar planetária, permanecendo concreta, se a dominação de um império sobre o mundo puder cessar, então se abrirá um novo infinito de liberdade, responsabilidade, dignidade, superação, respeito pelo outro. É o que chamarei de hiperdemocracia. Esta conduzirá à instalação de um governo mundial democrático e de um conjunto de instituições locais e regionais. Possibilitará a cada qual, pelo emprego reinventado das fabulosas potencialidades das próximas tecnologias, ir rumo à gratuidade e à abundância, beneficiar-se equitativamente dos lucros da imaginação mercantil, preservar a liberdade dos seus próprios excessos, bem como dos seus inimigos, deixar às gerações vindouras um meio-ambiente mais bem protegido, fazer nascerem, a partir de todas as sabedorias do mundo, novos modos de viver e criar em conjunto.

Então, pode-se contar a história dos próximos cinquenta anos, e antes de 2035 a dominação do Império Norte-Americano terá fim, provisória como a de todos os seus predecessores. Em seguida, uma após a outra, rebentarão três ondas de futuro: hiperimpério, hiperconflito e, depois, hiperdemocracia. Duas ondas a priori mortais. A
terceira, a princípio, impossível. Sem dúvida, esse três futuros se mesclarão. Já se imbricam. Acredito na vitória, por volta de 2060, da hiperdemocracia, como forma superior de organização da humanidade, expressão última do motor da História: a liberdade."

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